Das duas, a mais velha sempre sugou mais a minha atenção. É
uma menina sensível, complexa, absorvente e … muito reactiva.
Noto que a minha filha deu um grande salto a nível psico-motor:
aquela menina receosa que procurava ajuda da mãe quando estava num insuflável, ou
no alto de um equipamento, ou precisava/queria trepar algo ou transpor alguma
barreira.
Sempre foi perseverante, focada em ultrapassar os medos e conseguir,
ainda que bloqueasse… ficava ali a remoer, a sofrer, até conseguir. É aqui que
eu “vi” que a minha Carmen não iria ser derrotista, não ia facilmente desistir
das coisas.
Depois cresceu uns cm em tamanho e emoções e os seus
interesses dirigiram-se para os trabalhos escolares: sem nunca impor o que quer
que fosse, a miúda podia levar o dia na escola a fazer trabalhos, mas chegava a
casa e a 1ª coisa que fazia era ir buscar os livros, para pintar, fazer exercícios,
desenhar no quadro branco e treinar as letras.
O senão disto é a sua total absorção: fica completamente vidrada
nestas tarefas como se não houvesse amanhã, e quando esbarra nalguma
dificuldade: uma letra que não sabe fazer, a figura humana que quer de uma
forma e não sabe, simplesmente delira, sofre, enerva-se e não aceita ajuda. Irrita-se
se tentamos ajudar, enxota-nos e a primeira palavra que sempre sai da sua boca
em ocasiões tensas e de cansaço é MÁ.
Tive algumas dificuldades em gerir este problema, mas
apercebi-me que o melhor era fazer com que sentisse na pele as consequências
naturais de não querer ajuda, ser violenta e afastar-me…. Até ela perceber que
podemos trabalhar em equipa, em conjunto e que para pudermos evoluir temos que
saber aprender, ter paciencia, errar, treinar, errar até conseguir.
Hoje é capaz de fazer desenhos que me deixam boquiaberta:
consegue reproduzir castelos, princesas, e muitos cenários, sempre muito
elaborados. Já aceita ajuda e pede que participe (nem sempre)
Socialmente, começam os meus problemas (ou não): a Carmen é
uma menina imprevisível, não gosta que as vizinhas se metam com ela na rua, não
gosta de beijos e é muito pouco tolerante e impaciente.
O mundo, ainda gira em redor dela, e tudo o que descentre a
atenção dela, destabiliza-a.
Não é capaz de ser simpática com a minha mãe, por exemplo,
porque associa o final do dia a ir para casa, já estar cansada, e o simples
facto de por vezes, ainda ir buscar a minha mãe ao trabalho, para lhe dar
boleia a casa é uma batalha. Diz-me e diz-lhe que não gosta da voz dela, e só
ela (Carmen) pode falar. Tenho que estar
sempre a partir pedra com ela. Muitas vezes dá-me vontade de ir deixá-la a casa
com o pai e dps tratar destes assuntos, mas isso é estar a “poupá-la” e a
condicionar a minha forma de estar, pensar e sentir. Vida real, tem de ser. O
maior erro é evitar a confrontação dos problemas.
Mais tarde ou mais cedo, vamos conseguir a melhor solução
que agrade à maioria.
A falar de maioria, a minha Carmen não é de maiorias. Gosta
de fazer as coisas à sua maneira e não se deixa influenciar. Isto é visisel na
escola: por vezes vejo-a isolada, a brincar sozinha e aparentemente parece nem
se importar…
Agora tenho observado que se dá mais com umas meninas mais
velhas. Uma delas, tem perfil de bullie, posso exagerar: mas está sempre a
perseguir as mais novas, a impor a sua vontade, a fazer troça….
Não gosto desta influência. Noto que a miúda se sente
pressionada, está sempre a falar do Verão e de quando faz 5 anos e anda numa
obsessão pelos dentes. Que os dentes vão cair… e quando caem (…)
Durante a semana, a sua falta de paciência e agressividade vão
aumentando com a irmã, é má para a irmã, não partilha e está sempre a fazer o
que as outras tentam fazer com ela.
Como na escola tem sempre aquela mascara, chega a casa e
sente-se autorizada para libertar essas tensões. O pai passa-se porque ela é
cruel, impulsiva e não permite que a irmã faça seja o que for primeiro que ela.
Depois o fim de semana vai decorrendo, e o seu comportamento altera-se
totalmente: fica mais amiga da irmã, é mais expansiva em sentimentos, mais doce
e amiga.
Tem ido nestas ocasiões pensar na vida e por vezes o pai
chega-lhe ao pêlo. Discordo com esta abordagem totalmente. Mas eu não o posso
desautorizar. Falamos depois e já não quer saber das minhas explicações e
teorias…
Educar é difícil… A Carmen tem sido uma prova viva para mim
neste aspeto.
1 comentário:
POis amiga Acho que a Carmem é o TEU desafio. Tens muitas capacidades e ela vai-te pôr á prova. O meu talvez seja mais calmo, mas os finais de dia ás vezes são tb complicados, porque na escola eles aguentam as pressões e depois vem pra casa descarregar as frustrações do dia. É assim. São os desafios pelos quais procuramos, e que no final de contas são eles que nos mantem vivas e nos obrigam a ser mais velhas e maduras por vezes, outras umas autenticas crianças. Por eles tanto podemos ser água tranquila que desce o rio em beijos e abraços, como fogo descontrolado pela encosta abaixo em momentos de birras e afins. São nossos professores de técnicas de autocontrole!!
beijocas
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